(reportagem publicada no portal uolnoticias em 07/05/12)
Ela era uma adolescente de 16 anos quando seu balanço a caminho do
mar foi eternizado em uma melodia que ficou famosa no mundo inteiro.
Meio século depois, Helô Pinheiro, a garota de Ipanema, comemora novas
conquistas na vida profissional: estreou o programa De Cara Com a
Maturidade, na Band, e, ao lado da filha, Ticiane Pinheiro, apresenta o
Ser Mulher, no canal Bem Simples. Além disso, exerce seu lado empresária
como dona de uma grife de moda praia no Rio de Janeiro e de uma linha
de roupas esportivas para uma marca em São Paulo.
Casada há mais de 40 anos, com quatro filhos e três netas, ela se
divide atualmente entre a vida profissional, familiar e as várias
entrevistas que tem dado à imprensa do mundo todo em comemoração aos 50
anos da composição de Vinicius de Moraes e Tom Jobim. “Está tudo bem
corrido. As pessoas querem saber do meu passado e presente”, diz Helô,
que também está escrevendo sua biografia.
Aos 66 anos, formada em jornalismo e direito, ela nem pensa em se
aposentar e se enquadra em um novo perfil. São as novas sessentonas e
setentonas vaidosas, que cuidam do corpo, são atuantes na profissão e
não têm nada da imagem da vovó de alguns anos atrás, que não tinha outra
perspectiva na vida além de cuidar dos netos e fazer tricô. “A geração
de mulheres que está próxima aos 70 anos enfrentou muitas mudanças
sociais: começou a tomar pílula, trabalhou fora de casa, aprendeu a
dirigir. Elas quebraram tabus e preconceitos, e continuam fazendo isso
até hoje”, diz a psicóloga Maria Célia de Abreu, de 67 anos, que há 15
estuda a questão do envelhecimento pelo IDEAC (Instituto Para o
Desenvolvimento Educacional, Artístico e Científico).
“Essas mulheres estão mais livres. Cuidam mais do corpo e do
emocional. Percebo que elas engolem menos sapos, exercem seus direitos,
têm amigos de ambos os sexos. Isso não era permitido à mulher casada
antes”, diz Maria Célia. Ela acredita que a próxima geração de mulheres
maduras enfrentará menos preconceitos. “Tenho impressão de que a fase
do espanto com a postura desse grupo está acabando", afirma a psicóloga.
"Elas são guerreiras e estão mudando a visão da sociedade. As próximas
gerações de mulheres de 60 e 70 anos estarão ainda melhores e com menos
tabus para quebrar”.
Ajuda da medicina e exercícios físicos
As
mulheres que chegaram com saúde e em forma na terceira idade podem ter
contado com a genética. Mas muitas ajudaram a natureza fazendo exames
médicos com periodicidade e utilizando as novidades da medicina e
cosmética. “Há uma cultura que as estimula a procurar o ginecologista
desde cedo", diz Luiz Antonio Gil Jr., geriatra e membro da Sociedade
Brasileira de Geriatria Seção São Paulo. "Mas muitas mulheres de 60 anos
e de boa saúde têm procurado o geriatra para fazer trabalho preventivo,
avaliação geral e identificar potenciais de risco”, afirma. Segundo
ele, é impossível estabelecer até quando uma pessoa continuará ativa na
maturidade, mas o médico tem acompanhando casos interessantes. “Tenho
duas irmãs pacientes, uma de 95 e outra de 93 anos, que moram sozinhas,
viajam e usam a internet”.
Casos assim talvez se tornem comuns no futuro, já que a média de
vida do brasileiro tem aumentado. Segundo o IBGE, em 2010, a esperança
de vida ao nascer do brasileiro era de 73 anos, um crescimento de três
anos em comparação a 2000. Para as mulheres, essa expectativa era de 77
anos, sete a mais do que os homens.
Os cuidados com a saúde também incluem uma rotina de exercícios
físicos. “Há pouco tempo, os médicos receitavam apenas hidroginástica
para as idosas, por ser uma atividade de menos impacto, assim elas não
corriam o risco de ter uma lesão", diz a professora de educação física e
personal trainer Cloe Celentano. "Com o passar do tempo, os estudos
mostraram que o impacto sobre os ossos é benéfico para aumentar a
fixação de cálcio e prevenir a osteoporose. Elas começaram a procurar as
academias para fazer musculação, que é indicada para mulheres acima dos
45 anos para prevenir o problema”. E, na academia, as novas idosas
querem estar sempre bonitas. "Antigamente, elas usavam uma 'calçola' por
baixo da calça de ginástica. Hoje estão sempre na moda e usam legging,
tênis adequado e batom”, diz Cloe.
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Ligia Azevedo, 70, é proprietária de um spa no Rio
Uma das responsáveis por ajudar a cultivar o culto ao corpo no
Brasil nos anos 80 foi Ligia Azevedo, de 70, hoje dona de um spa
itinerante que leva seu nome. Ela ficou conhecida como a Jane Fonda
brasileira porque, assim como a atriz, também fez vídeos para divulgar a
ginástica aeróbica que fazia sucesso naquela década nas academias. Mãe
de uma filha de 50 e avó de dois netos, foi casada três vezes. A última,
aos 40, foi com um rapaz de 23 anos, relacionamento que foi um
escândalo na época. “Quebrei um tabu, fui parar em capa de revista por
estar com um homem mais novo. Foi pesado”, conta. O casamento durou
cerca de 10 anos.
Ligia assume que fez três plásticas no rosto em um período de 30
anos, seguindo os conselhos de Ivo Pitanguy. “Ele me disse que a mulher
tem que fazer plástica aos poucos depois dos 40 para nunca envelhecer,
diz Ligia. "Fiz pequenas cirurgias a cada 10 anos. Por isso, quem não me
vê há 30 anos diz que estou igual”. Ligia garante que não fez mais
nenhuma intervenção depois dos 60. Ativa, pode ser encontrada em seu
escritório ou nos hotéis para onde leva seu spa na região de Búzios, no
Rio de Janeiro, acompanhando as equipes de profissionais e se
exercitando com elas. Além disso, ela estuda para se tornar terapeuta em
antiginástica, um método que trabalha o alinhamento corporal e corrige
vícios posturais. “Quero continuar com meu spa e dar essas aulas para
ajudar pessoas”, diz. Solteira, acha difícil encontrar um homem com sua
idade e que acompanhe seu ritmo. “Mas quem sabe eu não encontro um de 50
de cabeça boa? Por enquanto não apareceu nenhum”, diz ela que,
recentemente, participou do comercial de um cosmético destinado a
mulheres com mais de 70 anos.
A dermatologia também tem sido uma aliada das mulheres quando se
trata de combater o envelhecimento. A toxina botulínica, o famoso botox,
desponta como o preferido de médicos e clientes para paralisar músculos
e combater as rugas. Mas há também os cremes à base de ácidos e
aparelhos de laser que estimulam o colágeno e tratam a pele. “De maneira
geral, as mulheres nessa faixa de idade estão mais jovens do que as das
outras gerações, pois temos mais recursos de rejuvenescimento, além da
cultura de vida saudável”, diz Natalia Cymrot, dermatologista e mestre
em dermatologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
“A toxina botulínica pode deixar a pessoa bem, mas precisa de um
profissional competente para aplicá-lo. E só isso não ajuda. Com a
combinação de procedimentos, o resultado é muito melhor”, diz a médica.
Tabus a quebrar
Para a psicóloga Maria Célia de
Abreu, um dos preconceitos que as mulheres acima de 60 enfrentam diz
respeito às palavras velho e idoso. “Ouço eufemismos como a idade de
ouro, terceira idade, melhor idade. A melhor idade pode ser qualquer
uma, dependendo da pessoa e de sua história", diz Maria Célia. "Gosto de
usar o termo velho ou idoso, e gostaria que isso não fosse ofensa”.
A questão da sexualidade também está mudando para essas mulheres.
“É a quebra da ideia de que depois dos 60 não existe sexualidade, o que é
uma mentira enorme", diz a psicóloga. "Essa sexualidade pode se
manifestar de várias maneiras, desde demonstrações físicas de afeto como
um simples abraço até a pratica do sexo".
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Aos 70, Vera Melo não sai um dia sem maquiagem
Funcionária do metrô de São Paulo há 24 anos, dez deles como
ouvidora, Vera Melo, 70, concorda. “A vida íntima de um casal acima dos
60 pode ficar muito melhor. A gente aprende a conhecer o outro e a si,
perde certas frescuras, vergonhas e timidez. Não temos tempo para isso”,
diz Vera, que está casada pela segunda vez há 18 anos.
Helô Pinheiro pensa da mesma forma, mas acredita que a medicina é
fundamental para ajudar nesse aspecto. “Tenho vida sexual ativa, mas
atribuo à reposição hormonal. Se não fizesse, talvez não tivesse essa
vitalidade sexual que tenho", diz. "Depois da menopausa, tem o
desequilíbrio dos hormônios. A reposição te dá essa libido, vitalidade. A
minha está ótima, graças a Deus”.
Vera faz parte do grupo de mulheres que vem rompendo tabus há
décadas. Aos 38 anos, passou por duas grandes mudanças: deixou a vida de
dona de casa para trabalhar como secretária e se separou do primeiro
marido. Hoje, mesmo com uma rotina puxada, não se descuida da
aparência. Mãe de dois filhos e com um neto, Vera faz questão de tingir
os cabelos a cada quatro semanas e de estar com as unhas impecáveis
sempre. “Todos os dias, faça chuva ou faça sol, saio do banheiro às
6h30 com maquiagem e só tiro na hora de dormir", diz. "Não admito que
uma mulher não tenha brilho”.