IDOSOS DELINQUENTES PREOCUPAM
GOVERNOS NA EUROPA
- penitenciárias serão adaptadas para receber este tipo de criminosos -
- solidão e falta de recursos levam idosos franceses à delinquência -
O aumento da expectativa de vida nos países desenvolvidos e o envelhecimento da população estão provocando um efeito colateral peculiar: cada vez mais idosos cometem crimes na Europa. Na semana passada, a França divulgou um estudo detalhado sobre a perspectiva de ter de equipar suas penitenciárias para poder receber presos com mais de 65 anos, instalando rampas para cadeiras de rodas e suportes adaptados para pessoas com dificuldades.
Por enquanto, um habitante em cada cinco da França tem mais de 60 anos, mas essa proporção será de um a cada três em 2050, de acordo com estimativas do Instituto Nacional de Estatísticas (Insee). A evolução dos dados vai fazer com que a taxa de crimes entre idosos passe dos atuais 2,13% das ocorrências para quase o dobro daqui a 40 anos, ou seja, o índice aumentaria de 24 mil para 40 mil senhores "de cabelos brancos" respondendo por algum tipo de delito. "Por mais chocante que isso possa parecer, o envelhecimento da população tem a vocação de causar um aumento quase automático da delinquência entre os idosos", alerta o relatório do Centro de Análises Estratégicas que foi entregue ao primeiro-ministro francês, François Fillon, para que tome providências face ao problema.
Os dados ainda apontam que a qualidade de vida durante o envelhecimento deverá ser superior à verificada hoje ¿ o que pode ser interpretado como criminosos aptos a ousadias por mais tempo, por conta da disponibilidade física crescente. No ano passado, a Bélgica teve um bom exemplo deste sintoma colateral do aumento da qualidade de vida: descobriu que o autor de um espetacular roubo a carro-forte tinha 75 anos, e chefiava uma quadrilha de assaltantes. O homem foi condenado a 15 anos de prisão pelo crime.
"Em termos de crimes, o que é mais importante neste relatório são as condições físicas do envelhecimento. As pessoas hoje vivem não apenas mais tempo, como em melhor saúde", analisa o criminologista Alain Bauer, no jornal Le Figaro. "Isso influencia inevitavelmente os comportamentos, mesmo os criminais. Os bandidos vão prolongar as suas atividades".
A polícia francesa afirma que já sente a diferença de idade das pessoas implicadas em crimes, especialmente os ligados ao tráfico de drogas, e que estão se tornando comuns os casos de aposentados que entram no crime para melhorar os rendimentos. Por mais surpreendente que possa parecer, os crimes de violência sexual também estão em alta entre os idosos do país.
Laurence Ubrich, jornalista francesa, publicou em 2009 um livro em que aborda o tema em profundidade. Ela descobriu que a causa que mais leva os idosos para uma vida de crimes é, no fundo, afetiva: a solidão da velhice. Os vovôs atiradores revela ainda que, para muitos dos senhores, o crime compensa, uma vez que trocarão uma vida de isolamento por uma em convívio com outras pessoas, além de serem acolhidos em um estabelecimento com comida e atendimento médico gratuitos e à vontade. Na avaliação deles, explica a autora, uma condenação a esta altura da vida lhes traria mais benefícios do que prejuízos. "Mas existe também uma outra parcela de idosos que acha que jamais a culpabilidade deles será descoberta, porque ninguém desconfiaria de um velhinho. Estes aproveitam-se da imagem de fragilidade que passam para cometer crimes, achando que nunca serão apontados como suspeitos", afirma Laurence. De acordo com a sua pesquisa, no entanto, a Justiça parece não ter pena dos cabelos brancos dos autores de crimes e os condena com o mesmo rigor que faria com um delinquente mais jovem.
Laurence lamenta a falta de estudos detalhados sobre o assunto, e afirma que a falta de estrutura das penitenciárias é um problema a ser resolvido com urgência. "Eles vivem sem acompanhamento adequado e acabam desenvolvendo mais problemas de saúde na prisão. É um desafio que os europeus vão ter de enfrentar mais cedo ou mais tarde".
Na Europa, a Alemanha é a única a ter aberto um estabelecimento penitenciário exclusivo para os condenados com mais de 62 anos. O fenômeno não é novidade no Japão, onde 50 mil senhores com mais de 65 anos são presos por ano. As prisões japonesas já são equipadas com rampas e barras nos banheiros, além de disponibilizar enfermeiras para ajudar os idosos a comer e a se banhar e se vestir nas celas
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