domingo, 12 de setembro de 2010

ADULTO SENIOR É CONTEÚDO DE 
PESQUISAS E REPORTAGENS  

Há mais de dois anos o INSTITUTO AME SUAS RUGAS apresenta discussões, tendências e necessidades do público envelhecente junto aos principais meios de comunicação. Agora grandes empresas como Pão de Açucar, Avon e Boticário começam a olhar com atenção o setor e encomendaram uma pesquisa específica para detectar o perfil deste novo consumidor. Empresas modernas estão abertas não só a este consumidor, como também com o desenvolvimento de projetos sociais que amparam o idoso em suas novas demandas sociais. 


A Revista Exame deste mês de maio trouxe importante reportagem. 
Saiba mais no link
http://portalexame.abril.com.br/marketing/noticias/novos-velhos-habitos-mercado-senior-brasil-557340.html?page=1





O TESÃO DOS VELHOS


por Gilberto Dimenstein


É com ânimo de adolescente que o arquiteto Jaime Lerner fala sobre sua experiência de produzir o menor carro do mundo, a ser apresentado nesta semana durante uma feira de design. A ideia é que o microautomóvel não seja vendido a particulares, mas fique em diversos estacionamentos da cidade, para ser alugado por hora, ajudando a aliviar o trânsito. “O carro só tem um problema: eu quase não consigo entrar nele”, brinca com seu peso.
Rapidamente muda de assunto: fala das experiências de inovação urbana que o fazem viajar sem parar pelo mundo. Conta que um dos seus projetos, já desenhado, é criar o maior parque linear do mundo, em cima da linha de trem que passa na cidade de São Paulo. “Isso redefiniria o conceito de periferia.” A conversa ruma para questões pessoais e eu lhe pergunto se está namorando. Jaime, viúvo, diz que não vai encontrar ninguém que substitua Fani, sua falecida mulher. Nem se mostra disposto a morar com mais ninguém. Namorar pode ser. “Desde que não me chateie.”
Escolhi Jaime, 73 anos, para abrir a coluna de hoje por causa de uma informação divulgada pelo IBGE na semana passada: cresce aceleradamente a faixa etária dos mais velhos. Em apenas um ano, de 2008 a 2009, foram mais 697 mil pessoas -quase a quantidade da redução que houve entre os jovens até os 24 anos de idade. Estamos vivendo uma redefinição da velhice, uma redefinição acentuada nesta sucessão presidencial. O Brasil -assim como vários outros países do mundo- está com menos jovens, mas os velhos, de modo geral, estão mais jovens.
Uma prova disso foi uma campanha publicitária lançada na semana passada na Inglaterra depois da descoberta de que as doenças venéreas estão crescendo especialmente entre os homens com mais de 65 anos de idade. Em sua maioria, eles imaginam que esse tipo de doença é coisa de adolescente e que, portanto, estariam imunes a elas, já que, com mais experiência, saberiam escolher melhor as parceiras. Por trás disso, segundo os responsáveis pela campanha, estão o aumento da expectativa de vida e o crescimento do número de divórcios, além, é claro, dos novos medicamentos e tratamentos para cuidar da saúde, no geral, e da disfunção erétil, em particular.
Principal personagem desta sucessão presidencial, Lula, 65 anos, é visto muito menos como ex-presidente do que como candidato na próxima eleição, quando já terá quase 70 anos. Ninguém vê problema nisso. Assim como se especula que, caso saia mesmo derrotado, como reforçou a pesquisa Datafolha divulgada ontem, José Serra talvez dispute a prefeitura paulistana aos 70 anos. Muita gente dentro do PSDB lista uma série de razões para o ex-governador não sair candidato, mas idade não aparece entre elas.
Há um time de brasileiros que vai, aos poucos, redefinindo o que significa ser velho. É gente como Silvio Santos, Hebe Camargo, Jô Soares, Fernando Henrique Cardoso, Boni, Chico Buarque, Caetano, Gil, Niemeyer, Adib Jatene. De alguma forma, eles se comportam, na sua inventividade, como educadores e ajudam a quebrar o preconceito de que ser velho é apenas esperar a morte.
Uma pesquisa realizada pelo Datafolha sobre a terceira idade mostrou que um terço dos brasileiros com mais 60 anos admite ter depressão. Nesse grupo, o medo da morte é igual ao de ficar doente -isso sinaliza como será complicado preparar os sistemas de saúde para atender a essa clientela. Psiquiatras alertam sobre o risco de certos preconceitos acabarem atrapalhando o processo de envelhecimento. É que, além dos problemas naturais da idade, é comum a visão que se tem da vida na terceira idade como um momento sem novidades, previsível, monótono, o que, muitas vezes, aumenta a probabilidade de surgirem doenças físicas e psicológicas. Veja quantos acadêmicos, no auge de sua fertilidade mental, se aposentam da universidade.
Isso significa que tesão pela vida se aprende. Ou se desaprende. Aprende-se, por exemplo, vendo um Jaime Lerner, cercado de universitários, tão satisfeito quanto desajeitado, espremendo-se para entrar no menor carro do mundo.
Extraído do Jornal Folha de São Paulo de 12set2010:  http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1209201022.htm

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